De volta ao aprisco

Hebreus 13.20
Introdução
Esta é a quarta reflexão que faço em torno do tema aprisco e curral. No entanto, Hebreus 13.20 nos traz de volta ao aprisco. O autor se refere a Jesus como o grande pastor das ovelhas. Ele foi apresentado por João como o bom pastor, agora ele retorna no texto de Hebreus como o grande pastor. Ao fazer isto, o autor resgata e restaura a concepção que vem do Antigo Testamento acerca do pastor e que é instigante e paradigmática para o ministério pastoral hoje. Há uma clara referência a Moisés que, com seu cajado e sua autoridade de guia, conduziu o povo do meio da escravidão no Egito até a entrada na Terra Prometida. Em outras palavras, o autor de Hebreus está relacionando o pastoreio de Jesus a um novo êxodo, agora numa perspectiva de salvação escatológica.[i]

O grande pastor
Além de indicar na figura do “grande pastor” o líder Moisés, logicamente que está implícita a imagem de pastor que é atribuída a Deus. Deus é o primeiro e maior pastor. O Salmo 78 narra a história do povo no Antigo Testamento e compara a vida do povo como a de uma ovelha que segue e é guardada pelo seu pastor. Trata-se de um Salmo Didático, pois lembra ao povo as ações de Deus, do Deus Pastor.

Entre as ações estão as seguintes:

1.  Guiar no sentido de apascentar, conduzir. Isaías fala sobre isto quando o povo estava voltando do exílio para reconstruir a Cidade e o Templo de Jerusalém: “Como um pastor apascenta ele o seu rebanho, com o seu braço reúne os cordeiros, carrega-os no seu regaço, conduz carinhosamente as ovelhas que amamentam” (40.11).

2. Prover no sentido de providenciar o necessário para a vida. Lucas 12.22-31 apresenta este lado pastoril de Deus. Conta 3 pequenas parábolas para evidenciar o cuidado e a providência de Deus para com seu rebanho: parábola do corvo, da vida e da erva do campo.

3. Guardar no sentido de defender, vigiar, libertar, reunir e congregar. O profeta Miquéias 2.12 promete que Deus, durante o exílio, reuniria o Seu povo como ovelhas no aprisco: “Reunir-te-ei todo inteiro, Jacó, congregarei o resto de Israel!  Agrupá-los-ei como ovelhas no aprisco, como rebanho no meio da várzea, e haverá ruído longe dos homens” .

4.  Permanecer no sentido de fazer aliança. O tema da aliança de Deus com Seu Povo está presente em toda a Bíblia.   Zacarias 13.9 diz :“Ele invocará o meu nome, e eu lhe responderei; direi: É o meu povo!’  Ele dirá: ‘Deus é o meu Deus”.

Estas ações do Deus Pastor são paradigmáticas para o exercício do ministério pastoral hoje, pois o ambiente social e familiar em que as pessoas estão inseridas, além do ambiente cultural, econômico e político, requerem um pastoreio humanizado e humanitário. Humanizado no sentido de que as pessoas devem ser tratadas com dignidade e respeito pelos pastores e pastoras e não apenas como consumidores de produtos que lhe são vendidos ou ouvintes de seus sermões mal preparados e arroubos de soberba e vaidade. Humanitário no sentido de estar ao lado para socorrer, fortalecer, ouvir, interceder e agir com solidariedade, justiça e amor. Um ministério pastoral que não tenha esta mística será apequenado, muito apequenado.

Não apequenar o pastorado
É interessante observar que o autor de Hebreus oferece indicativos para que o ministério pastoral supere a tendência do apequenamento das ações pastorais quando orienta o rebanho. Ao orientar as ovelhas ele indica o caminho a ser seguido pelos pastores e pastoras.

São várias as recomendações (Hb 13.7-17): lembrar dos guias; lembrar dos que pregaram a palavra; não se envolver com doutrinas estranhas; possuir um altar para oração constante; oferecer o louvor a Deus; possuir lábios que confessem o senhorio de Cristo; não negligenciar a prática do bem; cooperar com os outros; obedecer aos guias que evidenciam estas características de um ministério que se modela no exemplo do Grande e do bom Pastor; pastorear com alegria e não gemendo; e por fim lembrar que todos prestarão contas do que fazem com suas responsabilidades e ministérios.

Conclusão
Para não concluir, termino com as palavras do autor de Hebreus: “Que o Grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém” (Hb 13.20-21).

Bispo Josué Adam Lazier
 Leia as outras reflexões sobre esta temática:

Entre o aprisco e o curral.

Ministério no aprisco versus ministério no curral.

Para estar no aprisco e não no curral.
 [i] BOSETTI, Elena; SALVATORE, A. Panimolle. Deus-Pastor na Bíblia – solidariedade de Deus com seu povo. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1986, p. 57. 

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